Linguarejar

As jovens e os jovens repórteres que as televisões usam para os seus exteriores consolidaram-me o convencimento. Não me ficaram nem dúvidas nem receios. Apenas dois exemplos, que mais me não ocorrem de momento, o ilustram com toda a força da Guernica.
Exemplo A: A jovem repórter, destacada para uma reunião de pessoas importantes, é inquirida sobre o número de pessoas que já tinha chegado. Lesta, responde: já chegaram cerca de oito pessoas. Fico de imediato com a visão rigorosa da cena, teriam chegado entre 7,5 e 7,9 pessoas. A oitava teria meio corpo dentro da porta ou, sendo mulher e dependendo da medida, teria também já avançado com o par de mamas. O rigor da linguagem é muito bonito, não deve ser menosprezado.
Exemplo B: Esta manhã, na TSF, uma rádio de referência que incorre no erro de ainda não ter recrutado o Sr. Luís Delgado para o seu quadro de colaboradores e que, por isso mesmo, sintonizo menos. Uma jovem noticia o incêndio numa discoteca algures em Buenos Aires onde estariam algumas seis mil pessoas. E adianta que, segundo números oficiais, há 179 mortos praticamente. Fico certo, ciente e sabedor. Mas tenho pena daquelas 179 pessoas, todas praticamente mortas, quase no último estertor. Se Deus fosse de facto misericordioso pouparia ao menos umas quantas. Assim é mais que certo que à hora do noticiário seguinte estariam todas de facto mortas.
Por obrigações pessoais que não sou eu a estabelecer, não ouvi o noticiário seguinte. Mas, mesmo agora, estou atento. A ver se ouço repetir a notícia e se fico a saber se permanecem praticamente mortas ou se já estão só mortas, sem mais nada.